A Rússia invadiu a Ucrânia. Mas isso para Lula parece ser indiferente. O ideal mesmo é culpar o agressor para que a paz seja feita
“Você pode enganar todas as pessoas por algum tempo; você pode enganar algumas pessoas o tempo todo, mas não pode enganar todas as pessoas o tempo todo.”
A frase atribuída ao então presidente dos Estados Unidos, Abraham Lincoln em entrevista ao New York Times em 27 de agosto de 1887, seria uma oportuna introdução à esta crônica, se o personagem do momento não fosse Luiz Inácio Lula da Silva, eleito presidente pela terceira vez em novembro de 2022.
Incapaz de solucionar problemas dentro do próprio Congresso (a prova da formação do superbloco de Lira é uma pista), Lula chegou ao poder pela terceira vez já dizendo que “só ele seria capaz de ofertar a paz” a russos e ucranianos.
De forma simplória, simplista, simplificada e bastante rude, o chefe de estado, que acusou Bolsonaro de grosseiro, afirmou que o acordo de paz poderia sair “numa mesa de bar”.
A conversa agora mudou.
Ou veio à tona. Não pela primeira nem segunda vez, o petista acusou a Ucrânia pela continuidade da guerra iniciada em fevereiro de 2022. De forma chocante,14 meses de massacre já se passaram.
“A construção da guerra foi mais fácil do que será a saída da guerra”, elucubrou Lula em passagem pelos Emirados Árabes Unidos no sábado (15).
“Porque a decisão da guerra foi tomada por dois países. Também temos que ter em conta que é preciso conversar com os Estados Unidos e com a União Europeia. Nós precisamos convencer as pessoas de que a paz é a melhor forma de estabelecer qualquer processo de conversação” – filosofou Lula, da forma mais barata possível.
—-
Rússia x Ucrânia ou verdade histórica x narrativa da esquerda global
Entre todos os fatores que orbitam a guerra, um deles é factual. A Ucrânia não começou nenhuma guerra. A Ucrânia foi invadida pela Rússia.
Se for preciso recapitular, eis a história como ela é.
Em 24 de fevereiro de 2022, o então primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, foi um dos primeiros líderes mundiais a se pronunciar sobre a guerra, iniciada aproximadamente às 4h da manhã (0h de Brasília).
“Pouco depois das 4 da manhã, conversei com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, para oferecer apoio. Isso porque nossos medos se tornaram realidade, e todos nossos avisos foram comprovados como reais. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, desencadeou uma guerra em nosso continente Europeu. Ele atacou uma nação amigável, sem qualquer provocação ou desculpa crível”...
Em 2 de março de 2022, pouco mais de uma semana do início da agressão russa, a diplomacia brasileira votou favorável à condenação da invasão ao território da Ucrânia.
O placar serviu para impor uma derrota humilhante à hipocrisia, até mesmo para quem mente por profissão.
Com o voto brasileiro, a Assembleia Geral da ONU sentenciou como criminosa a ação da Rússia por 144 x 5. Ainda houve 35 abstenções.
https://www.gov.br/en/government-of-brazil/latest-news/2022/brazil-votes-to-condemn-russia2019s-aggression-against-ukraine-at-the-un-general-assembly
Para entender a constrangedora situação baseada nas falas de Lula, que insiste em culpar o agredido pelo crime (como anda nosso ministério dos Direitos Humanos sobre o caso? – cabe a pergunta),
Não é possível enganar todo mundo ao mesmo tempo, nem contando com o Tribunal Superior Eleitoral para apagar história.
Síria, Rússia, Eritreia, Belarus, Coreia do Norte foram os óbvios defensores da guerra na sede das Nações Unidas.
As abstenções sãos as entrelinhas dessa guerra.
Ser neutro em um conflito não significa automaticamente se esquivar da responsabilidade.
Aliados antigos da esquerda fazem parte do grupo que ficou com vergonha de votar a favor da Rússia, mas preferiu ficar em cima do muro.
Entre eles, alguns dos maiores aliados de Lula: Nicarágua, Cuba, Irã, Bolívia e China.
E ainda tivemos ausências como a da Venezuela, excluída da assembleia por dívidas acumuladas em US$ 40 milhões com a instituição.
Ainda assim, seria muito óbvia posição de Nicolás Maduro sobre a guerra. Ele nunca escondeu seus planos.
“Eles os tiraram do sistema SWIFT, fecharam seu espaço aéreo, fecharam todos os laços comerciais, fecharam e proibiram o uso do dólar, o que estão fazendo com a Rússia é uma loucura”, afirmou Maduro, um dos mais fervorosos devotos de Vladimir Putin e amigo íntimo de Lula.
A frase de Nicolás Maduro talvez seja a antítese do início desse texto. Na esteira das “correções históricas” que muitos clássicos da literatura têm sofrido, Abraham Lincoln simplesmente diria hoje:
“Você não pode enganar todas as pessoas o tempo todo…ao menos que elas mesmas queiram ser enganadas”.