Roberto Campos Neto foi um dos nomes mais comentados nos três primeiros meses do governo Lula. Atacado de forma explícita e contundente em virtude de sua autonomia no comando do Banco Central, Campos Neto não poderá ser substituído até o fim de seu mandato até 2024. Por conta disso, governo federal e organizações sindicalistas parceiras têm pressionado para que o dirigente do BC reduza os juros.
Em entrevista coletiva realizada na quinta-feira (30) para debater o Relatório Trimestral de Inflação, Roberto Campos Neto explicou os motivos da manutenção da taxa Selic em 13,75% ao ano, ratificando a importância de controle da inflação.
“Temos visto politização de uma linguagem muito técnica do Copom. Cada vez que mudamos palavra e frase, há um significado”, afirmou Campos Neto.
“A ata consegue incorporar alguma explicação sobre incertezas que podem ter sido criados pelo comunicado. Entendemos que precisávamos explicar que nosso processo não tem nenhuma dimensão política, é completamente técnica”, justificou o presidente do BC.
O ponto alto da entrevista ficou para a explicação de Campos Neto sobre a importância de se controlar os índices inflacionários.
“Fazemos um trabalho técnico e precisamos explicar para a sociedade que esse trabalho tem um custo no curto prazo que é menor que o custo no longo prazo de não se combater a inflação”, elaborou. “Precisamos mostrar as vantagens de ter a inflação sob controle”, concluiu o banqueiro.
Roberto Campos Neto fala sobre o “arcabouço fiscal”
Na mesma entrevista, o presidente do Banco Central ainda fez considerações sobre a carta de intenções da nova política fiscal do governo Lula, apelidada de “arcabouço fiscal”.
Sem se aprofundar no tema (a coletiva de Fernando Haddad aconteceu de forma simultânea a do BC), Roberto Campos Neto afirmou não ter tido tempo de estudar os detalhes do projeto.
“Neste momento, não temos nada a declarar sobre o arcabouço; precisamos analisar”, apontou Campos Neto”.
“Quando olhamos o arcabouço, ainda sem a calibragem dos parâmetros, ele parecia bastante razoável”, disse. “A gente reconhece o esforço que está sendo feito pelo ministro da Fazenda, em um projeto que é duro, em um governo que tem bastante divisões e acho que denota claramente uma preocupação com a trajetória de dívida”, completou.