Oscar e política, há muitos anos, já viraram seres híbridos. Não dá mais para diferenciar se a Academia de Ciência e Artes de Hollywood está preocupada em lançar uma chapa para concorrer a uma cadeira no conselho de segurança da ONU ou se ela realmente quer premiar filmes que marcarão nossas vidas para sempre.
A prova de que temas identitários, além de a necessidade de ser “inclusivo” em todos os aspectos da indústria cinematográfica tem sido uma enorme pedra no meio do caminho do controle real de qualidade.
Será que forçar a entrada por raça e gênero ajuda atores, diretores e produtores, ou simplesmente é uma ferramenta para ser politicamente correto?
As novas regras da Academia indicam que a resposta mais adequada seria a segunda. Segundo os chefões de Hollywood, a partir do ano que vem todos os longas terão de ter obrigatoriamente um protagonista “que não seja branco”. Caso não sigam a cartilha, estarão fora da disputa.
Qual seria o critério para essa radicalização, se ainda for permitido questionar?
No ano passado, o melhor filme acabou sendo “No Ritmo do Coração” – de fato uma história singela, bem escrita, cercada de excelentes atuações e sentimento verdadeiro.
Porém, como a temática envolve uma família de deficientes auditivos, suspeita-se que essa escolha foi feita mais pela necessidade de mostrar “que a Academia se Importa” do que se interessa pelas interpretações e roteiros.
Em 2023, tivemos “Tudo ao Mesmo Tempo em Todo Lugar” como o supercampeão da noite (7 Oscars), levando inclusive a melhor direção, atriz e filme do ano. Esta última, com premiação feita pelo lendário Harrison Ford (outro injustiçado e ignorado pela Academia, que jamais ganhou uma estatueta, e teve apenas uma indicação em seis décadas).
É um longa confuso e extremamente segmentado. Em uma competição que envolvesse filmes nessa linha, talvez fizesse muito sentido.
Em contrapartida, produções que sustentam toda a máquina da indústria foram recompensados com prêmios de consolação.
É o caso de “Top Gun: Maverick” e Avatar: O Caminho da Água”. As duas maiores bilheterias de 2022, que resgataram a vontade (e a coragem) de lotar as salas só receberam melhor edição de som e efeitos visuais, respectivamente.
“Os Fabelmans”, de Steven Spielberg, ficou só nos elogios. Não levou nada. Nem por respeito à biografia de uma dos maiores diretores da história, que decidira contar sua saga familiar.
Oscar: a ingratidão com quem “salvou Hollywood”
Se houve algum ponto para reverência no Oscar 2023 foram as premiações para “Nada de Novo no Front” (o terceiro remake, que faturou 4 Oscars) e “A Baleia”. O longa, sobre os últimos dias de Primeira Guerra Mundial pelo olhar dos alemães ganhou 4 estatuetas, incluindo a de melhor fotografia, que salta nos olhos pelo realismo.
O realismo também é a marca de “A Baleia”, que ficará na memória pela atuação e Brendan Fraser. A redenção de um ator que nos alerta para os perigos da obesidade mórbida. Outro tabu entre os lacradores/woke do mundo todo.
Tom Cruise – um ator que nunca foi arroz de festa em Hollywood – sequer esteve presente, talvez já sabendo que seu honesto, divertido e salvador “Top Gun: Maverick” não seria consagrado com o prêmio máximo.
Nem mesmo a premissa de que teria “salvado a pele da indústria” – segundo palavras do próprio Steven Spielberg – foi capaz de tirar o herói das gravações de “Missão Impossível: Acerto de Contas – parte 2”.
Dedicado e preocupado em entreter os fãs da sétima arte, Cruise preferiu fazer o que ele melhor sabe fazer: trabalhar para lucrar através de um trabalho perfeito, enxuto e despreocupado em fazer justiça social. Falando nisso, neste ano teve até “estatueta Yanomami” para protestar contra a exploração de ouro na Amazônia.
Será que Lula nomeou algum ministro também lá na Academia? Fica a reflexão.
Está na hora de tentar salvar a barra de Hollywood de novo, apesar de toda a ingratidão.