Missão de condenar Jair Bolsonaro à perda de direitos políticos dá passo significativo para que o ex-presidente não dispute nenhum cargo político nos próximos 8 anos. Julgamento continuará na quinta-feira (29)
Missão dada é missão cumprida. Para surpresa de quase ninguém, o relator do processo de cassação dos direitos políticos de Jair Bolsonaro votou para que o ex-presidente fique sem disputar eleições por 8 anos. O corregedor do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Benedito Gonçalves – nomeado para o Superior Tribunal de Justiça por Lula em agosto de 2008 – aproveitou para ignorar o pedido do advogado de Bolsonaro, Tarcísio Vieira, de retirar do processo a “minuta do golpe” encontrada na residência do ex-ministro da Justiça, Anderson Torres. Peça, aliás, incluída após ação movida pelo PDT.
Em seu voto, Benedito Gonçalves também ignorou que o objeto da acusação – uma reunião feita pelo então presidente Jair Bolsonaro com embaixadores de todo mundo – aconteceu fora do período eleitoral, portanto, teoricamente sem prejuízo as eleições de outubro.
Ainda assim, Gonçalves afirmou que “afirmações falsas” teriam causado dano ao processo eleitoral brasileiro.
“O primeiro investigado difundiu informações falsas direcionadas a convencer que havia graves riscos que as eleições de 2022 fossem fraudadas. O evento foi transmitido ao vivo pela TV e provocando a remoção do conteúdo por iniciativa do YouTube. […] A conduta de severa desordem informacional sobre o sistema eletrônico de votação, sob o benefício do investigado”, apontou o relator.
Em outro trecho de seu voto, Benedito Gonçalves considerou que Bolsonaro fez “pré-campanha” durante o encontro com os diplomatas, significando, segundo ele, “abuso de poder político”.
“Também se conclui pela ocorrência de abuso de poder político praticado pelo primeiro investigado que condenou, definiu e ordenou que se realizasse evento estratégico para sua pré-campanha”, destacou Gonçalves.
“No qual fez uso da sua posição de presidente da República, chefe de Estado e comandante supremo das Forças Armadas para potencializar os efeitos da massiva desinformação a respeito das eleições brasileiras apresentadas à comunidade internacional e ao eleitorado”, completou.
Missão interrompida: Raul Araújo segue “orientação” de Alexandre de Moraes e suspende julgamento
Após o voto de Benedito Gonçalves, o ministro Raul Araújo Filho decidiu adiar a leitura de seu voto para quinta-feira (29). Aparentemente ensaiado, ele concordou em encerrar o segundo dia de julgamento, respondendo ao questionamento do presidente do TSE, Alexandre de Moraes.