Em entrevista exclusiva, o advogado da família Mantovani revela ao Paradoxo BR os motivos da reabertura do caso que envolve o imbróglio com o filho de Alexandre de Moraes no aeroporto de Roma
Literalmente, um parto. Nos últimos 9 meses, milhões de brasileiros têm questionado: o que realmente aconteceu no aeroporto de Roma entre a família do empresário Roberto Mantovani Filho e a família do ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes em 14 de julho de 2023?
Mesmo com as imagens do circuito interno vedadas ao público por ordem do ministro Dias Toffoli, o caso chegou a ser dado como encerrado. Em fevereiro, a Polícia Federal considerou que a suposta troca de agressões se caracterizou como ‘injúria real’ (quando há emprego de violência).
Contudo, por ter menor potencial ofensivo, a PF decidiu não indiciar os Mantovani pela suposta agressão ao advogado e filho do magistrado, Alexandre Barci de Moraes. O jogo não demorou para mudar.
A nova reviravolta aconteceu em 22 de março, quando Toffoli atendeu à solicitação da Procuradoria-Geral da República para que ocorresse mais investigações.
A defesa de Roberto Mantovani Filho e família reagiu à retomada do inquérito. Nesta semana, o advogado criminal Ralph Tórtima Filho fez nova petição ao ministério público, requerendo acesso a todas as imagens e ao conteúdo dos celulares anexados ao processo: condição imperativa para que um novo depoimento à PF – originalmente marcado para esta quinta-feira (11) – possa acontecer.
(Baixe a petição enviada ao MPF neste link)
Em conversa exclusiva com o Paradoxo BR, Ralph Tórtima Filho esclarece todos os detalhes que envolveram o imbróglio.
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Paradoxo BR – A Polícia Federal solicitou o arquivamento do caso em fevereiro, por constatar que o caso de injúria real não era grave. Qual fato novo ocorreu nesse intervalo para a retomada do inquérito?
Ralph Tórtima Filho – Houve uma troca de personagens no ministério público – e uma manifestação surpreendente. Aparentemente, eles querem dar uma outra conotação aos fatos, direcionando para o que foi encontrado no celular do sr. Roberto Mantovani.
Paradoxo BR – O sr. quer dizer que a acusação de suposta agressão ao filho do sr. Alexandre de Moraes já não é mais o objeto da ação?
Ralph Tórtima Filho – O problema é que o conteúdo apreendido no celular não está entre as provas anexadas. Eu tive acesso aos autos, mas não ao que foi apurado no aparelho do sr. Mantovani. Por isso, peticionei para ter acesso às imagens e a esse conteúdo. Eles querem ouvir o meu cliente na quinta-feira, mas ele não irá falar antes de assistir às imagens.
Paradoxo BR – Para quem não tem acesso ao material disponibilizado pelos órgãos públicos, o sr. pode resumir o que aconteceu no dia 14 de julho no aeroporto de Roma?
Ralph Tórtima Filho – A família Mantovani se preparava para embarcar para o Brasil naquele dia. Eles estavam em um grupo de sete pessoas. Roberto Mantovani Filho e sua esposa, Andréia e um filho do casal, mais o genro Alex Zanatta Bignotto, uma filha do primeiro casamento do sr. Roberto e duas crianças de colo.
Por conta das crianças de colo, Roberto e sua filha passaram à frente e tentaram encontrar um lugar na sala VIP. Quando eles retornaram, a equipe do aeroporto revelou que não havia mais vagas. Depois disso, Roberto e sua esposa notaram que o sr. Alexandre de Moraes e sua esposa entraram na sala VIP, enquanto duas pessoas da família do ministro ficaram de fora.
Eles, então, questionaram a atendente o motivo de terem deixado o ministro entrar, sem saber que os demais eram seus familiares.
“Foi nesse momento que ele chama o sr. Alex Zanatta de bandido. Essa imagem vazou para o público” – Ralph Tórtima, sobre o caso Mantovani
Paradoxo BR – Mas como, então, começou a discussão entre a família do sr. Mantovani e a do sr. Alexandre de Moraes?
Ralph Tórtima Filho – A sra Andréia ficou indignada. Disse algo como “por que políticos podem entrar na sala VIP e idosos e crianças não?”. Depois de reclamarem, eles saíram do local em busca de uma outra sala VIP. No retorno, o sr. Alexandre Barci de Moraes entrou na discussão. Ele estava com duas irmãs, que deixaram o local.
Foi nesse momento, na segunda discussão, que as farpas foram trocadas. A mão do sr. Roberto esbarrou no óculos do filho do ministro, depois que ele tocou sua mão na nuca do sr. Roberto. O sr. Alexandre de Moraes, ao ser informado do que ocorreu, deixou a sala VIP. Foi nesse momento que ele chama o sr. Alex Zanatta de bandido. Essa imagem vazou para o público.
Paradoxo BR – Não houve discussão sobre algum tema da política? Essa acusação foi repetida pela mídia. Inclusive, teria sido o motivo para o sr. Alexandre de Moraes solicitar à então presidente do STF, Rosa Weber, acionar a Polícia Federal para realizar busca e apreensão na residência do sr. Mantovani.
Ralph Tórtima Filho – Não, absolutamente nada de política. Mas o sr. Alexandre de Moraes atribui à sra. Andréia às ofensas recebidas. Que ela teria chamado o ministro de corrupto e ladrão. Coisa que ela diz não ter feito, pois não esteve com o ministro naquele dia. Por isso, assistir às imagens é muito importante.
Paradoxo BR – O sr. Mantovani pensa em buscar reparação contra essas acusações?
Ralph Tórtima Filho – Não. Na verdade, ele só não quer ter problemas. Ele quer por uma pedra. Ele não tem interesse em processar ninguém.
Um outro dado muito importante, é que nesta fase do inquérito o Ministério Público Federal teria direito de requerer o que bem entendesse. Por exemplo, a perícia das imagens. Porém, não está interessado. E agora há essa mudança no teor dos depoimentos. Eles querem ouvir o sr. Mantovani sobre o que foi encontrado no celular. Eu questiono: será que eles desejam dar uma conotação política no caso?
Paradoxo BR – O sr. pode comentar sobre o que havia no celular?
Ralph Tórtima Filho – De fato, não sabemos precisamente. São mensagens que o sr. Mantovani recebeu, como muitas pessoas recebem todos os dias. Nas eleições, você costuma receber de tudo. Não há como avaliar sem ter o acesso. Nesta petição que fiz, eu peço o acesso ao que foi anexado para que meu cliente saiba sobre o que irá depor.