John Wick: Capítulo 4 – Baba Yaga apresenta em suas suculenta receita de merecido sucesso todos os ingredientes que os críticos de cinema da chamada Geração Z mais repudiam.
A quarta empreitada da franquia de ação noir iniciada em 2014 com protagonismo de Keanu Reeves oferece um coquetel de antídotos para venenos que estúdios como Disney/Marvel tentam emplacar (cada vez com menos sorte, aliás).
Entre eles, roteiro sem discursos políticos progressistas; protagonista masculino com testosterona de sobra; nenhuma sombra de ideologia de gênero e a cereja de nosso bolo: cenas radicais de pura ação, sem pedir desculpas para nenhuma classe, raça ou representante social.
Em resumo: o pau come, sem distinção de raça, cor ou credo.
Sobra para todo mundo em John Wick 4: maioria ou minoria (seja lá o que isso signifique).
No fim das contas, ninguém recebe pulseirinha VIP ideológica. O tiro não perdoa quem passa pela tela. Não adianta nem espernear para a Maria do Rosário. Wick e cia. mandam todos para as camadas mais fundas do Inferno de Dante, sem dó.
A quarta incursão de John Wick – embora não pague os pedágios ideológicos que a chamada cultura woke (ou de lacração) tenta impor “para um mundo mais inclusivo” – consegue ser tão ou mais diversa do que as produções que hoje mais parecem comícios do PSOL ou do partido Democrata.
Em John Wick: Capítulo 4, temos uma exposição de culturas diversas. Só que elas estão lá pelo capacidade técnica e artística e contexto da obra. Não pela imposição de uma agenda identitária – algo que até a Academia irá impor oficialmente em 2024, para quem deseja competir pelo Oscar.
A começar pelo protagonista, o assassino perseguido por seu antigo empregador, a temida Alta Cúpula. John Wick é encenado por Keanu Reeves, que em seu DNA porta raízes portuguesas, chinesas, irlandesas e inglesas.
Nascido em 2 de setembro de 1964, o ator “à prova de envelhecimento” é nativo de Beirute, Líbano, mas foi registrado no Canadá.
O elenco do longa – que se sustenta quase de forma inabalada durante 2h49 – é outra evidência de que inclusão não é sinônimo de lacração.
Distante da lamentável causa da “representação”, Laurence Fishburne (o Rei de Bowery, em John Wick) dispensa há décadas a estampa de “ator negro”. Sua afrodescendência está em quinto, sexto ou centésimo plano, pura e simplesmente por suas habilidades dramáticas.
(Quem aqui não é fã de Morpheus, da saga Matrix?)
Ainda há toda a internacionalização que pontua a franquia John Wick. Em seu quarto capítulo, viajamos pelos EUA (Nova York -a base de ação de Wick, e sede do hotel Continental), França, Japão e Oriente Médio.
Em cada cenário, uma atuação de acordo com o que roteiro pede, muito bem dirigida – e nunca inferiorizada ou maximizada por qualquer motivo que não seja fazer sentido na trama.
Hiroyuki Sanada (“Lost”, “O Último Samurai”), por sua vez, é um daqueles coadjuvantes impiedosos na arte de roubar cenas. O ator japonês domina suas funções em John Wick: Capítulo 4, como gerente da filial de Tóquio do Hotel Continental. Não deixe de fazer sua fezinha on-line antes que ela seja taxada. Pode apostar que Sanada não foi colocado no filme para “representar” os asiáticos.
John Wick 4 deve esmagar Homem-Formiga
John Wick 4, após duas semanas em cartaz nos EUA e Brasil, já contabilizou mais de US$ 245 milhões nas bilheterias e custou apenas US$ 100 milhões para ser desenvolvido.
Os elogios a seu desempenho, publicados em alguns dos principais sites especializados, acompanham a frequência do público às salas de cinema.
No Rotten Tomatoes, por exemplo, 94% dos jornalistas e do povão aprovaram a trama dirigida de forma cirúrgica pelo americano Chad Stahelski.
Para efeito comparativo, o longa que deu início à Fase 5 do universo cinematográfico Marvel, Homem Formiga e a Vespa – Quantumania, que estreou em 15 de fevereiro, orbita na faixa dos US$ 470 milhões após dois meses em cartaz. Se o desempenho comercial de Wick não retroceder, a merca da Marvel deve ser superada daqui a 15 dias.
Analistas, inclusive da tradicional (mas progressista) revista Variety, apostam que dificilmente o terceiro longa protagonizado por Paul Rudd chegue aos US$ 600 milhões.
Os fatos que muitos fãs do casamento entre Disney e Marvel às vezes procuram esquecer são vistos em filmes como Homem-Formiga e a Vespa – Quantumania, que há tempos deixaram de lado os valores que atraíam uma enorme base de fãs, como coragem e heroísmo.
No lugar dessas qualidades, o que experimentamos no escuro do cinema ultimamente são discursos feministas em altas doses, piadas já não tão engraçadas assim, além da ridicularização dos atores masculinos.
Ainda há outro fator crucial: o abandono dos reais protagonistas da Marvel, como os inquestionáveis Homem de Ferro (Robert Downey Jr.) e Capitão América (Chris Evans) – ambos, há quase quatro anos eliminados de cena, na conclusão da fase 3 da Marvel Studios, Vingadores: Ultimato.
O efeito do “extermínio” desses craques, há tempos, já não causa mais aquele tipo de propaganda natural que atraía até quem não gostava do gênero para ver, ansiosos, os filmes de heróis. A Marvel tem precisado explicar o porquê de ir ao cinema – e isso não é bom.
Assim como Top Gun: Maverick deu início ao interessante processo de resgatar os blockbusters com seus quase US$ 1.5 bi nas bilheterias, John Wick: Capítulo 4 avança, destemido, para resgatar os filmes de ação onde a preocupação exclusiva é entreter sem discursos ideológicos.
Se os poderosos estúdios que ainda dominam Hollywood aceitarem as críticas, ainda dá tempo de corrigir o desvio de rota e sair lucrando.
Não por coincidência, a mega bilionária Disney anunciou na semana passada uma devassa em seu quadro de funcionário, com mais de 7 mil de missões “para equilibrar custos”.
Será que o problema da maior empresa de entretenimento do mundo é somente financeiro?
Claudio Dirani
- Para mais informações sobre John Wick, o Paradoxo BR recomenda os canais Heróis e + e Linhagem Geek.
- Se você perdeu os três primeiros longas da saga, assista a John Wick: De Volta ao Jogo e John Wick 2: Um Novo Dia Para matar no Amazon Prime Video. John Wick 3: Parabellum está disponível para locação no YouTube filmes.