Getúlio Vargas: o que o ícone da esquerda tem a ver com o que passamos no Brasil atual? Gabriel Viaccava faz a autópsia do Estado Novo, o verdadeiro regime fascista brasileiro
O exército sempre atuou como um proeminente ator político no Brasil, protagonizando a queda do Império.
Desde então, tem-se notado sua participação em sucessivos “golpes”. É imprescindível recordar que os militares estavam ao lado do gaúcho Getúlio Dornelles Vargas quando ele tomou o poder e instituiu o Estado Novo – um regime ditatorial “sócio fascista” que faz Alexandre de Moraes parecer um santo.
Getúlio Vargas usou o Plano Cohen como justificativa para o golpe de Estado que impôs a ditadura do Estado Novo a partir de 10 de novembro de 1937.
A partir daí, rasgou a constituição e impôs a censura à imprensa – algo muito familiar para quem não é do “clube” nos dias atuais. O que suscita a atenção é o esforço tanto da esquerda quanto das forças armadas para reescrever essa parte da história, buscando relegá-la ao esquecimento.
Contudo, um breve resumo é necessário para compreendermos o caminho percorrido até à nossa era.
Getúlio Vargas e o verdadeiro Brasil fascista
O Estado Novo de Getúlio Vargas instituiu um regime ditatorial fascista, caracterizado pela suspensão da Constituição e pela censura à imprensa, cujas marcas tornaram-se indeléveis.
O período de maior autoritarismo do governo Vargas assinala a história do Brasil como uma era de perseguição implacável a qualquer um que ousasse se opor ao regime vigente
Vargas, então, consolidou seu poder, governando com mão de ferro e reprimindo impiedosamente qualquer tentativa de dissidência.
A trajetória de Getúlio Vargas figura-se como elemento imprescindível para compreender o panorama atual.
Em 29 de outubro de 1945, movidos por um movimento militar liderado por generais que compunham seu próprio ministério, os mesmos militares que participaram e articularam o golpe e a instauração do Estado Novo, pôs-se termo ao regime após 13 anos.
Mesmo após a derrocada do Estado Novo, o governo de Getúlio Vargas manteve-se intransigente. Prosseguiu reprimindo seus adversários políticos, além de censurar a imprensa e utilizar a violência como meio de perpetuação no poder.
Seu segundo mandato presidencial, por exemplo, esteve impregnado de acusações de autoritarismo e violação dos direitos humanos, o que agravou ainda mais sua imagem de ditador implacável.
Em 1964, a hierarquia militar ressurgiu como protagonista no cenário político e, por meio de uma articulação no congresso, depôs Jânio Quadros e assumiu o comando do país. Cumpre salientar que tal processo contou com o apoio da classe intelectual e da mídia.
“Seu segundo mandato presidencial, por exemplo, esteve impregnado de acusações de autoritarismo e violação dos direitos humanos.”
Militares no comando: ascensão e queda
Por duas décadas, os militares governaram o Brasil. Até que, sob forte pressão dessa mesma classe intelectual e mídia que os acolheu inicialmente, o poder foi devolvido à administração civil, com Figueiredo encerrando o ciclo como último presidente militar.
(…)
Certo dia, durante conversa com uma amiga, fui advertido acerca do pensamento contido nos conteúdos acadêmicos da Escola Superior de Guerra. Isso me motivou a adentrar de forma mais aprofundada ao mundo intelectual do exército, revelando claramente esse pensamento em seus artigos e livros.
Iniciei, portanto, a imersão em materiais acadêmicos e a leitura de artigos. Percebi que a posição do exército brasileiro permanece alicerçada em um viés positivista, embora haja algumas vertentes que divergem. A corrente intervencionista no exército brasileiro demonstrou-se bastante restrita.
Destacou-se facilmente uma inclinação para a social democracia com resquícios liberais nos escritos dos intelectuais do exército, a exemplo do General Villas Boas, inclusive altamente respeitado pela esquerda brasileira.
Em outro ponto da conversa, indaguei:
– Mas será que não sofremos um golpe da esquerda?
A resposta desconstruiu qualquer argumento subsequente: a esquerda brasileira tem-se notabilizado por articular golpes desde o Brasil império.
Refleti silenciosamente sobre tal colocação que me tirou qualquer argumento que viria a ter.
(…)
Lula e Vargas
Lula sempre nutriu admiração por Getúlio Vargas. Não é à toa que a esquerda o cultua como um ícone. Vargas manifestou apoio ao regime nazista, porém habilmente mudou de posicionamento mediante a promessa de benefícios.
Assim como Hitler, tendo Getúlio como um entusiasta do conceito de “Übermensch” de Nietzsche – um ser superior que se apresenta como o modelo ideal para elevar a humanidade.
Ainda há o bipartidarismo, criado por Getúlio com as legendas PTB e PSD. O exemplo foi seguido pelos militares com ARENA e MDB, e, mais tarde, por Lula com PT e PSDB – embora a mitomania o tenha levado a afirmar que foi ele, Lula, o criador do sistema.
Lula e os tucanos, aliás, alegam ser responsáveis, nos dias atuais, por um “novo jeito de fazer política”.
Segundo os “adversários” de outrora, foi preciso resgatar esse jeitinho em 2022 para convencer a opinião pública.