Recheado de frases feitas e ataques aos “países ricos”, o discurso de Lula na 78ª Assembleia Geral da ONU não faltou afagos à Agenda 2030 globalista e críticas ao “neoliberalismo” da direita
O discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que marcou a abertura da 78ª Assembleia Geral da ONU nesta terça-feira, em Nova York, foi uma combinação de bravatas, ideias arcaicas e frases feitas na medida para os países-membros que aderiram à política globalista da Agenda 2030. Assim como fizemos sobre os cartões corporativos, confira a análise do Paradoxo BR sobre as falas do petista.
Lula se lembra do Rio Grande do Sul
Logo no início de sua fala na sede das Nações Unidas, Lula relembrou as vítimas do terremoto no Marrocos e das enchentes que atingiram a Líbia e o Brasil, mais especificamente, 90 municípios do Rio Grande do Sul.
O mandatário, entretanto, não citou sua ausência no estado gaúcho. Entre 6 e 19 de setembro, Lula praticamente não ficou no Brasil.
“Desejo igualmente expressar minhas condolências às vítimas do terremoto no Marrocos e das tempestades que atingiram a Líbia. A exemplo do que ocorreu recentemente no estado do Rio Grande do Sul no meu país, essas tragédias ceifam vidas e causam perdas irreparáveis”, lamentou Lula, que logo emendou no tema da “crise climática” para justificar os recentes desastres.
“Hoje, ela (a crise climática) bate às nossas portas, destrói nossas casas, nossas cidades, nossos países, mata e impõe perdas e sofrimentos a nossos irmãos, sobretudo os mais pobres”, observou.
Palanque na ONU
Depois de reclamar que “os 10 maiores bilionários possuem mais riqueza que os 40% mais pobres da humanidade” (fato curioso para um dos grandes parceiros das maiores empreiteiras), o petista voltou a citar frases usadas durante a campanha presidencial de 2022.
“Se hoje retorno na honrosa condição de presidente do Brasil, é graças à vitória da democracia em meu país. democracia garantiu que superássemos o ódio, a desinformação e a opressão. A esperança, mais uma vez, venceu o medo”, garantiu Lula, citando que o maior problema do mundo atual seria “a desigualdade”.
Agenda 2030
O próximo tópico do discurso do presidente Lula foi o da famigerada Agenda 2030 da ONU, que une temas como combate ao agronegócio, ideologia de gênero e uma espécie de “Bolsa Família” universal. Nesse ponto, Lula basicamente falou o que os demais membros das Nações Unidas queriam ouvir.
“A mais ampla e mais ambiciosa ação coletiva da ONU voltada para o desenvolvimento – a Agenda 2030 – pode se transformar no seu maior fracasso”, alertou.
“No Brasil, estamos comprometidos a implementar todos os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável, de maneira integrada e indivisível”, prometeu.
Políticas requentadas
A seguir, foi a vez do Bolsa Família – uma continuação, de fato, da política assistencial criada no governo de Fernando Henrique Cardoso – entrar na pauta. Pela falta medidas a não ser novos impostos, Lula destacou a “criação” da assistência às famílias carentes.
“Lançamos o plano Brasil sem Fome, que vai reunir uma série de iniciativas para reduzir a pobreza e a insegurança alimentar. Entre elas, está o Bolsa Família, que se tornou referência mundial em programas de transferência de renda”, afirmou Lula, sem citar os cortes que o programa sofreu em 2023.
Queremos dinheiro
Após culpar os países ricos pela emissão de gases de efeito estufa, repetindo falas já desgastadas de Dilma Rousseff e do próprio Lula no passado, o petista aproveitou a deixa para pedir mais dinheiro para o Fundo Amazônia. Lula reforçou o apelo citando a queda no desmatamento da Amazônia, sem lembrar da alta recorde do desflorestamento na região do Cerrado. somente em abril, o aumento foi de 31% em relação a abril de 2022.
“Sem a mobilização de recursos financeiros e tecnológicos não há como implementar o que decidimos no Acordo de Paris e no Marco Global da Biodiversidade”, lamentou.
“A promessa de destinar 100 bilhões de dólares anualmente para os países em desenvolvimento permanece apenas isso, uma promessa e modelo. Hoje esse valor seria insuficiente para uma demanda que já chega à casa dos trilhões de dólares”, comparou.
Lula x Bolsonaro
A volta do arcaico discurso contra os vilões da política “neoliberal” foi a estrela da parte final do discurso de Lula na ONU. Além de atacar o FMI, o petista deu indiretas contra o governo Bolsonaro e disse ser “a favor da liberdade de imprensa”.
Nesse tópico, Lula protestou contra a prisão do australiano Julian Asange (fundador do Wikileaks), sem citar a perseguição a inimigos políticos em seu próprio país, como os jornalistas Allan do Santos e Alexandre Garcia.
“No ano passado, o FMI disponibilizou 160 bilhões de dólares em direitos especiais de saque para países europeus, e apenas 34 bilhões para países africanos”, comparou.
“O BRICS surgiu na esteira desse imobilismo, e constitui uma plataforma estratégica para promover a cooperação entre países emergentes. O neoliberalismo agravou a desigualdade econômica e política que hoje assola as democracias. Seu legado é uma massa de deserdados e excluídos”, afirmou.
“É fundamental preservar a liberdade de imprensa. Um jornalista, como Julian Asange, não pode ser punido por informar a sociedade de maneira transparente e legítima”, ponderou.
PL da Censura
Ao mesmo tempo em que discretamente discurso a favor da liberdade de imprensa, Luiz Inácio Lula da Silva – amigo de nomes como Nicolás Maduro, Daniel Ortega e Miguel Diaz-Canel – o petista protestou contra Big Techs e, sem citar nomes, contra aplicativos como o Uber: o mais novo alvo do governo Lula.
“Aplicativos e plataformas não devem abolir as leis trabalhistas pelas quais tanto lutamos. Ao assumir a presidência do G20 em dezembro próximo, não mediremos esforços para colocar no centro da agenda internacional o combate às desigualdades em todas as suas dimensões”, prometeu.
Paz chapa branca
Em seguida, mais temas internacionais foram rebootados pelo brasileiro – mas sempre “à moda Lula”. Isto é: o presidente clamou pelo fim das guerras, sem condenar a invasão russa na Ucrânia. Além do país europeu, Taiwan vive em eterna apreensão de uma invasão chinesa.
“A promoção de uma cultura de paz é um dever de todos nós. Construí-la requer persistência e vigilância. É perturbador ver que persistem antigas disputas não resolvidas e que surgem ou ganham vigor novas ameaças (…) A guerra da Ucrânia escancara nossa incapacidade coletiva de fazer prevalecer os propósitos e princípios da Carta da ONU”, analisou.
Amigo de Cuba
No fim do discurso “chapa branca” de paz, Lula retomou a ainda mais arcaica temática que habitam as falas de presidentes brasileiros de esquerda: as “sanções” à Cuba.
“As sanções unilaterais causam grande prejuízos à população dos países afetados. O Brasil seguirá denunciando medidas tomadas sem amparo na Carta da ONU, como o embargo econômico e financeiro imposto a Cuba e a tentativa de classificar esse país como Estado patrocinador de terrorismo”, concluiu