“Nunca ofusque o brilho do mestre”. Essa é a primeira lei do livro As 48 Leis do Poder, um best seller que consta no hall de leitura dos poderosos.
Se há algo que anos de ativismo e presença em manifestações me ensinaram é que não vale a pena tentar ajudar demais ou mostrar o que eu realmente sei para não irritar as lideranças. Eles têm egos sensíveis e, a reputação de ‘líder’ e ‘porta-voz’ é extremamente importante para eles. Rende muitos votos e, o que eles mais almejam é um cargo no sistema para ter dinheiro fácil e pouco trabalho. Finja que é burro. Isso mesmo, BURRO!
Isso traz muitas vantagens. Quando as pessoas acham que você nada sabe, elas te subestimam. Isso não é vergonhoso, é vantajoso. Afinal, quando tudo der errado, você tem a solução.
Quando muitos estavam reclamando da falta de ação e até uma posição das autoridades, os influenciadores que sequer estiveram no início do movimento, resolveram “agitar as águas, para atrair os peixes”. Passaram a estimular reações raivosas e emocionais, enquanto pediam calma com um discurso de “sem reação, sem resultados”. Essa é a Lei 39. Que dá vantagem àquele que se mantém calmo diante de uma situação de alta periculosidade. Eles conseguiram o comando.
Alguns que lá estavam sequer acreditavam ou são apoiadores das Forças Armadas. Mas se comportavam como fosse isso que realmente queriam. A Lei 38 prevê que, para conquistar pessoas e enganar o inimigo, você precisa seguir a tendência do momento dando a idéia de uma reciprocidade.
Com isso, eles se valeram da Lei 27 para manter o público entretido e angariar muito dinheiro. Eles jogaram com a necessidade que as pessoas têm de acreditar em alguma coisa, algo que vá atender as suas necessidades e com isso conquistar um séquito de devotos.
Eles se colocaram como foco desse desejo oferecendo uma possibilidade de que algo grande iria acontecer. Com promessas vazias, se colocando como porta-voz de figuras de importância, enfatizaram o entusiasmo, mantendo as atenções voltadas para eles.
“Dê aos seus novos discípulos rituais a serem cumpridos, peça-lhes que se sacrifiquem por você”, diz um trecho. Quem não lembra do “fique no quartel”; “não saiam do QG”; “vão para a Alvorada”. “É hoje!”.
Contudo, eles criaram um espetáculo atraente, como ensina a Lei 37. Se valeram de imagens surpreendentes como uma multidão aguardando um discurso do presidente para criarem uma áurea de poder. Para que as pessoas acreditassem que Bolsonaro somente apareceu porque os influenciadores pediram. Não! Ele aparecia na Alvorada porque é padrão do presidente receber as pessoas que o aguarda. Com a crença de que eles tinham alguma ligação próxima ao presidente, encenaram espetáculos e expectativas. Com símbolos e discursos radiantes, as pessoas passaram a doar grandes quantias e a defendê-los mesmo quando estavam errados.
Quando erraram ao protagonizarem o vandalismo em Brasília, o fatídico dia 12 de dezembro, eles se recriaram. E aqui entra a Lei 25. Sumiram por uns dias das redes sociais e dos olhos atentos dos que estavam no local, “recriaram-se” e forjaram uma nova pauta de urgência que foi a prisão do Cacique e o ataque aos militares “traidores”. Passaram a pressionar excessivamente a sociedade para que uma reação mais violenta acontecesse e passaram a apelar para a perseguição vinda de esferas superiores para sair do país, deixando o povo sem liderança.
Entretanto, eles mantiveram suas mãos limpas. Usam um bode expiatório – infiltrados – para continuar como um modelo de liderança e civilidade. Quando na verdade, estimularam o povo através do discurso do medo e da pauta de urgência a irem para a Esplanada. Essa é a Lei 26. Eles saem de cena como perseguidos e vítimas de uma eminente prisão e ainda são defendidos pela população.
Quando começaram a perceber que o cenário não iria mudar e que a população se viraria contra eles, a Lei 22 entrou no cenário. Eles se utilizaram da tática da rendição. Com isso, apelaram para os corações sensíveis e conseguem tempo para se recuperar. Perceberam que o sistema que eles juraram combater “com a vida” é mais forte que eles e, para não sair com a imagem de fracos ou derrotados, escolheram se render. Fizeram da rendição um instrumento de poder.
Um ponto que vale ressaltar é a confiança em quem nos cerca. Cuidado. A última pessoa que eu confiei de olhos fechados, quase destruiu a minha vida e, por consequência, minha saúde mental. A pessoa soube me usar, eu não percebi que estava sendo usada até o momento que descobri que fui traída. E isso levou meses. Aprendi que confiança é somente até a página dois.
Somente por amor a argumentação, vou dar um exemplo fictício de como a confiança plena pode ser destrutiva: A moça apaixonada por um rapaz, confiava plenamente no que ele dizia. Com o tempo, ele se mostrou promiscuo, traidor, mentiroso, a deixa sozinha nos piores momentos para estar com outras pessoas e manipulador. A humilhava de todas as formas e, quando descoberto ou confrontado, tentava maquiar a situação e até inverter a culpa.
Quando a moça não se deixava manipular, ele pedia desculpas e por muitas vezes, se vitimizava. Não por achar que estava errado e sim porque estar com ela trazia algumas vantagens e ele não poderia perdê-la naquele momento. Ela não se deu conta até o momento em que ele a deixou doente para sair com outras pessoas. E ele também passou a dar em cima da melhor amiga dela.
Ela se afundou no caos e na confusão mental. Afinal, por que ela merecia isso? Ela renunciou a tudo para ajudá-lo e estava presente nos bons e maus momentos. O ajudou a crescer profissionalmente.
enquanto ela trabalhava duro pelos interesses dele, ele estava em baladas, com outras mulheres, viajando e quando ela se irritava, ele a colocava como dramática, sensível e ainda a acusava de ter um plano contra ele.
Tudo isso a deixava vulnerável e confusa. Moral da história? Confiou tanto a ponto de ignorar todos os sinais. Quando finalmente enxergou a realidade, percebeu que somente para ela existia um relacionamento. Para ele, era apenas uma brincadeira que lhe trazia algumas vantagens, como se aproximar da melhor amiga da moça e angariar contatos.
O resultado disso? Ela teve que recomeçar a vida do zero. Não consegue mais confiar em ninguém e ainda se sente usada. E ele? Ele faz uso da quinta lei defendida do livro. “Muito depende da reputação – Dê a própria vida para defendê-la”.
Esse Lei é um dos pontos crucias do livro. Ela ensina que a reputação o protegerá do perigoso jogo das aparências, distraindo os olhos inquisidores dos outros e impedindo que eles saibam como você é realmente, e dando a você um certo controle sobre como o mundo o julga — uma posição poderosa.
Quando ela estiver sólida, não fique com raiva ou na defensiva com os comentários difamadores de seus inimigos — isso revela insegurança, falta de confiança na sua reputação. No início, você deve se esforçar para criar uma reputação por uma qualidade importante, seja generosidade, honestidade ou astúcia.
No caso do exemplo fictício, ele se apresenta como um homem de família, responsável e trabalhador. Um homem sério e de objetivos claros.
Já em relação aos que se apresentaram como líderes, eles contam com uma reputação virtual sólida, afinal ninguém tem acesso as suas vidas privadas. Você seguiria uma pessoa que mente e manipula? Ou uma que troca vantagem por sexo? Pois é.
Como suas reputações são sólidas, eles se utilizaram das táticas mais sutis, como a sátira e o ridículo, para enfraquecer o adversário.
O poderoso leão brinca com o camundongo que cruza o seu caminho — qualquer outra atitude prejudicaria a sua temível reputação.
Uma sólida reputação aumentou a presença deles e demonstrou uma força e uma influência que nunca tiveram. Portanto, chamar a atenção é importante. Grandes discursos, em cima de suntuosos caminhões, faz toda a diferença. Essa é a Lei 6. A necessidade de destaque e de aparecer é crucial quando você quer arregimentar seguidores. Porém, tudo o que é demais cansa e todos os grandes líderes sabem que uma aura de mistério chama atenção e cria uma presença intimidante.
Por isso eles se organizavam para manter a atenção e as expectativas concentradas neles o tempo todo e a qualquer preço, mas sempre mantiveram um ar de mistério, dando a impressão que sabiam mais do que falavam. O mistério tem que ser constante e sutil, porque ele tem o poder de fascinar e atrair atenção.
Se você se encontrar numa posição inferior, com pouca oportunidade de chamar atenção, basta atacar a pessoa mais visível, a mais famosa, a mais poderosa que encontrar ou fazer algo realmente arriscado, como por exemplo, incentivar um motim e fazer as pessoas acreditarem que você está no meio de um tiroteio.
A atenção que você chama jamais deve ofender ou desafiar a reputação dos que estão acima de você, por isso eles evitaram falar sobre o presidente, mas usavam o presidente para angariar diversas vantagens.
Um dos truques que eles utilizaram foi participar da manifestação, posicionando como liderança, enquanto aumentavam seu poder financeiro fazendo as pessoas acreditarem que tinham importantes contatos ou até que eram altruísta o suficiente para ajudar o povo em nome de uma causa, enquanto dorme em hotéis de luxo é uma boa formula para atrair a atenção das pessoas parecendo maior, mais colorido, mais misterioso do que as massas tímidas e amenas.
Assim eles mantiveram as pessoas ao redor na expectativa, provocando o tipo de atenção que os tornaram poderosos. Até enigmas que não poderiam ser instantaneamente interpretados, compreendidas, eles se utilizaram.
Uma vez em evidência, eles renovaram o método de chamar a atenção. Criaram um tema de urgência, uma pauta imperdível e até um falso problema que somente eles tinham a solução. Com isso, eles mostravam que estavam no controle jogando contra as suas expectativas, ao mesmo tempo infundindo respeito.
Há momentos em que a necessidade de atenção deve ser adiada, e quando a última coisa que se quer é um escândalo. Por isso, alguns ditos influenciadores somem quando começam a ser cobrados ou quando fazem algo reprovável e só reaparece quando há outro problema maior ainda.
O sensacionalismo, muito utilizado por eles, é para chamar a atenção e cria uma imagem inesquecível, até controvertida.
É uma arte saber quando chamar a atenção e quando se retrair. Um ar de mistério pode fazer o medíocre parecer inteligente e profundo. E essa é a pura verdade. Pessoas completamente perturbadas, com uma vida desequilibrada, dependentes de bebidas e remédios, conseguem parecer dignas de atenção e respeito.
Essa plêiade de mistério coloca os outros numa espécie de situação inferior, onde eles precisam sempre informar e elucidar o que está acontecendo.
Já perceberam como eles se dirigem as pessoas como “amigos”? E alguns mentem que são amigos de algumas figuras altamente influentes? Pois é… banque sempre o amigo. Essa é a lei 17. Seja amigo, vire espião. Raras são as pessoas que resistem a um presente, mesmo do inimigo mais ferrenho, por isso essa costuma ser a maneira perfeita de desarmar as pessoas e angariar ferrenhos defensores.
Um gesto delicado, generoso ou honesto muitas vezes é a forma mais eficaz de distração porque desarma as suspeitas da outra pessoa. A bondade seletiva com frequência desarma o inimigo mais obstinado: acertando precisamente no coração, ela corrói o desejo de revidar.
Por isso, não raro, algumas pessoas pedem dinheiro na internet, dizendo que é mais do que necessário para manter “as atividades” quando na verdade é para pagar baladas, mulheres e bebidas aos amigos. Os alvos passam a defender ferrenhamente o algoz.
Uma vez que a sua honestidade seletiva desarma até os mais desconfiados, eles podem enganá-las e manipular à vontade. A melhor maneira de conseguir isso é aparentando sinceridade e honestidade. Distraindo as pessoas a quem pretende enganar, você ganha tempo e espaço para fazer algo que elas não perceberão.
Um truque para tentar a espionagem nos é dado por La Rochefoucauld, que escreveu, “Encontra-se a sinceridade em pouquíssimos homens, e com frequência ela é a mais esperta das artimanhas — se é sincero para atrair a confiança e obter os segredos do outro”. Outro método indireto de espionagem é testar as pessoas, armar pequenas armadilhas que as farão revelar coisas sobre si mesmas. Uma das armas mais eficazes na luta pelas informações, portanto, é divulgar informações confusas ou falsas.
Ora, o que faz um soberano brilhante e um sábio general conquistarem sempre o inimigo, e suas realizações superarem as dos homens comuns, é a presciência da situação do inimigo.
Ao tentar fazer com que as pessoas cometam determinados atos, você fica sabendo sobre a sua lealdade, honestidade e outras coisas mais. Voltando ao rapaz do exemplo acima. Ele fazia a moça apresentar quadros de ciúmes, brigar com uma suposta rival e até defendê-lo em público.
Outro truque foi identificado pelo filósofo Arthur Schopenhauer, que sugeria veementemente contradizer a pessoa com quem você está conversando para irritá-la, até ela perder o controle do que está dizendo. Faça perguntas indiretas para conseguir que as pessoas revelem seus pontos fracos e intenções. Uma fachada cordial permitirá que você colha informações sigilosas de amigos e inimigos igualmente.
A desinformação deixa o inimigo cego de um olho. Controlando o que dizem, eles quase sempre mantêm ocultas as partes mais críticas de suas verdadeiras intenções. A vantagem da manobra é que elas confundirão o seu interesse com amizade, e você não só fica sabendo das coisas como conquista aliados.
Divulgando informações falsas ou desencontradas, você ganha uma enorme vantagem. Como disse Winston Churchill, “A verdade é tão preciosa que deveria estar sempre escoltada por mentiras”.
“Desoriente, confunda e surpreenda o inimigo sempre, se possível”. Essa é a Lei 17, que diz que manter as pessoas em estado de terror e na atmosfera de imprevisibilidade. Por isso manter as pessoas em um estado de tensão, falando que algo almejado está próximo de acontecer ou que falta pouco, é tão vantajoso.
No xadrez, como na vida, quando não conseguem imaginar o que você está fazendo, as pessoas ficam em estado de terror — aguardando, incertas, confusas.
O comportamento que parece incoerente ou absurdo os manterá desorientados, e eles vão ficar exaustos tentando explicar seus movimentos e entender o entorno. A pessoa com poder infunde um certo medo ao perturbar deliberadamente as pessoas a sua volta mantendo a iniciativa do seu lado.
Pablo Picasso disse certa vez, “O melhor cálculo é a ausência de cálculo”. Os padrões têm um poder muito grande, e se você os quebra pode deixar as pessoas assustadíssimas. Por isso as mudanças de comportamentos, discursos e até ameaças de um Capitólio brasileiro. As pessoas, com medo do que está por vir, justificam os atos dos influenciadores, com atribuições que nada têm a ver com a verdade. A imprevisibilidade é com frequência a tática rentável.
Quando começaram a cansar o público com “tic tac” e, “a hora é agora” ou “só mais 48 horas”, passaram a atacar outras pessoas, tirando o foco das incoerências que começaram a se apresentar. “Ataque o pastor e as ovelhas dispersam”. Essa é a lei 42. Passaram a acusar algumas lideranças de enriquecerem, quando eles mesmos estavam fazendo isso. Se valendo de um certo alcance e influência, começaram a alertar as mídias independentes que X ou Y estavam angariando grandes quantias, fazendo com que as pessoas parassem de confiar nos alvos e passassem a confiar somente neles.
Claro que tudo isso já estava minimamente planejado, com grandes estratégias. Afinal, o desfecho é tudo, diz a Lei 29. Eles consideraram todas as possíveis consequências, obstáculos e reveses que poderiam anular os seus esforços e outros pegarem os louros.
Por isso uma grande e hollywoodiana saída se fez necessário. Todos os heróis saíram “fugidos” em aviões confortáveis, depois de passar dias em hotéis luxuosos, enquanto o povo que os seguia e lhes davam dinheiro, se contentam com longas viagens de carros, banhos frios e barracas pouco seguras.