Em entrevista ao Paradoxo BR, economista Eduardo Cavendish revela porque a B3 reagiu de forma positiva à aprovação do fraco arcabouço fiscal de Lula
Apesar de ter quase mofado na gaveta de Arthur Lira (PP-AL), o novo marco fiscal brasileiro foi aprovado (com ressalvas) pela Câmara dos deputados. A votação de terça-feira, de fato, serviu apenas para derrubar as emendas feitas pelo senado e ratificar o que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, batizou como arcabouço fiscal.
Como o Paradoxo BR mostrou, o texto servirá como substitutivo do teto de gastos usado pelo país desde 2016. A diferença maior agora é que haverá uma enorme flexibilidade para furar o limite das despesas, dispensando, inclusive, o fator inflacionário.
No dia seguinte à aprovação, o mercado de ações retomou os ganhos acumulados na segunda-feira, já influenciados pela expectativa de aprovação do arcabouço. Às 15h da quarta-feira (23), a B3 operava acima dos 117 mil pontos e o dólar perdia valor frente ao real.
Economista explica porque a bolsa subiu e o dólar caiu após aprovação
Para entender a reação da Bolsa e do câmbio sobre o conjunto de regras fiscais, o Paradoxo BR entrevistou o economista Eduardo Cavendish, da consultoria Somas, que destacou a indiferença dos acionistas em relação à efetividade do plano de Lula para o Brasil.
“Os mercados vivem de narrativas, não de prognósticos”, aponta Cavendish. “Na verdade, apenas por ter um arcabouço – ainda que fraco – é o que eles tem para se agarrar”, complementa.
Segundo Eduardo Cavendish, o conteúdo do arcabouço fiscal – que pouco dá de garantias e não prevê cortes de despesas é pouco considerado para os negócios do momento. Na análise do co-fundador da Somas, o olhar do mercado é mais direcionado pelo plano geral, não pelo conteúdo.
“Eles vivem de wishful thinking”, ratifica. “É como fantasiar algo que poderá dar certo, sem ter certeza”, pontua.
O economista finaliza sua análise, destacando que, de certa forma, a inflação mais alta representa um bônus para o governo. Como o novo teto de gastos desconta as altas do IPCA, o aumento de preços dá ainda mais liberdade para o crescimento das despesas.
“Desta forma, a inflação é uma “aliada”, pois sugere déficits mais altos do governo”, conclui.