CPMI do 8 de Janeiro tem sido alvo de boicote de parlamentares governistas e da resistência do presidente do Senado
Quando as invasões às sedes dos três poderes, em Brasília, movimentaram a prisão de mais de 2.180 acusados de práticas criminosas como terrorismo e golpe de estado, o ‘presidente’ Luiz Inácio Lula da Silva já tinha na ponta da língua um culpado pela insurreição.
Sem provas, o petista disse que os atos de 8 de janeiro “foi o começo de uma tentativa de golpe de Estado, e que os golpistas estariam acatando ordem e orientação” que o ex-presidente Jair Bolsonaro teria dado durante muito tempo.
Além de culpar o ex-presidente da república, Lula afirmou que havia deixado Brasília na sexta-feira (6/1) sem que nenhum órgão federal o alertasse para sinais de perigo. Para Lula, a impressão era de que tudo estava em ordem.
“Se eu soubesse não teria viajado”, afirmou o presidente.
Amparado pelo judiciário, o governo federal parecia ciente de que os atos antidemocráticos do 8 de Janeiro eram trabalho exclusivo de apoiadores de Jair Bolsonaro e da oposição. Se os fatos eram conhecidos, ficaria a dúvida: por qual razão a base governista e aliados não têm medido esforços para minar a leitura do requerimento da CPMI do 8 de Janeiro, como aconteceu no Senado federal na terça-feira (18)?
O Paradoxo BR relacionou uma série de eventos que podem levar o governo a lutar contra a instalação da comissão mista de inquérito.
Flávio Dino esteve em seu escritório no 8 de janeiro?
Durante passagem pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino (PSB-MA) afirmou que não esteve em seu gabinete no dia dos ataques.
“Inventaram que eu recebi um informe da Abin, que é tão secreto que ninguém nunca leu, nem eu mesmo. Por quê? Por uma razão objetiva: eu jamais o recebi”, afirmou Dino à CCJ.
“Tiveram ainda as versões fantasiosas que eu estava no ministério olhando. Não, eu não estava no ministério olhando”, ratificou.
Apesar de negar ter comparecido ao seu escritório na Praça dos Três Poderes, postagem feita no dia 8 de janeiro desmente a afirmação do ministro.
Essa absurda tentativa de impor a vontade pela força não vai prevalecer. O Governo do Distrito Federal afirma que haverá reforços. E as forças de que dispomos estão agindo. Estou na sede do Ministério da Justiça.
— Flávio Dino 🇧🇷 (@FlavioDino) January 8, 2023
Minuta
CPMI: Documento para intervenção federal nas mãos de Lula
Na véspera dos incidentes em Brasília, Lula deixou a capital federal para São Paulo, de onde seguiria para a cidade de Araraquara, acompanhar os trabalhos da Defesa Civil em socorro às vítimas de enchentes.
Diversos veículos de imprensa noticiaram que uma entrevista coletiva aconteceria às 15h30 na Avenida 36, segundo a Secretaria de Comunicação Social da presidência.
O horário da entrevista é uma coincidência. Apenas 30 minutos após as invasões aos prédios públicos, Lula comunicou que iria decretar intervenção federal na capital, e já estava com os papéis do decreto em sua posse.
Os deputados e senadores de oposição querem saber como Lula já tinha em sua posse o documento, poucas horas depois.
Polícia Federal alertou Flávio Dino?
Em 11 de abril, o deputado federal Tenente Coronel Zucco (Republicanos-RS) divulgou à imprensa um ofício da Polícia Federal que teria sido entregue ao ministro Flávio Dino um dia antes dos ataques aos prédios públicos, em Brasília.
O conteúdo do documento aponta que ele foi redigido às 18h23 do dia 7 de janeiro pelo diretor-geral da Polícia Federal, Andrei Augusto Passos Rodrigues. As informações foram protocoladas via Sistema Eletrônico de Informações (SEI) com o número 5/2023, endereçado a Flávio Dino.
O ofício relata que havia “intensa movimentação em todo o país de pessoas que, inconformadas com o resultado das eleições 2022 e com o novo governo federal que tomou posse em 1º de janeiro de 2023, estariam organizando caravanas de ônibus para se deslocarem até Brasília/DF”.
A CPMI deseja convocar Flávio Dino para investigar uma suposta omissão do ministro, já que o documento alertava para eventuais problemas na capital federal.
Invasor “do relógio” supostamente infiltrado
Uma das cenas mais divulgadas sobre o 8 de Janeiro é a de um homem, na faixa dos 30 anos, invadindo e derrubando um valioso relógio datado do século 17, no interior do Palácio do Planalto.
O agressor trajava uma camiseta com o rosto do ex-presidente Jair Bolsonaro e olhou fixamente para a câmera de vigilância, até supostamente tentar destrui-la.
Em 25 de janeiro, o nome do vândalo foi divulgado. Antonio Cláudio Alves Fereira foi detido pela Polícia Federal na cidade de Uberlândia (MG). Em seu depoimento à PF, Ferreira permaneceu calado. Ele já tinha duas passagens pela polícia, além de responder a três processos criminais.
Os parlamentares desejam investigar se Antonio Cláudio Alves Fereira pode ter sido um dos inúmeros infiltrados entre os apoiadores do ex-presidente.
Sigilo decretado nas câmeras de segurança
Em 7 de fevereiro, o governo Federal decidiu decretar sigilo nas imagens que registraram os eventos do 8 de Janeiro.
O GSI (Gabinete de Segurança Institucional), comandado pelo general Gonçalves Dias, afirmou não ser “razoável divulgar informações que exponham métodos, equipamentos, procedimentos operacionais e recursos humanos da segurança presidencial”.
Na CPMI do 8 de Janeiro, caso seja instalada, os deputados e senadores pretendem investigar todas os registros visuais dos ataques. A expectativa é de que o conteúdo possa esclarecer quem tentou evitar a quebradeira, além de identificar os verdadeiros autores dos ataques.