Ataque aos Estados Unidos preocupa, mas vinculação da economia brasileira à chinesa pode ser ainda pior, avalia ex-chanceler Ernesto Araújo
O ‘presidente’ Luiz Inácio Lula da Silva (PT) declarou, no segundo dia da comitiva brasileira na China, que os Estados Unidos “precisam parar de incentivar a guerra”. A crítica de Lula foi dirigida à decisão norte-americana de ajudar a Ucrânia a impedir a invasão russa com o envio de armas, seguindo o exemplo de países europeus, como Reino Unido, Eslováquia, Polônia e Portugal.
“É preciso que os Estados Unidos parem de incentivar a guerra e comecem a falar em paz”, afirmou o presidente. “É preciso que a União Europeia comece a falar em paz pra que a gente possa convencer o Putin e o Zelensky de que a paz interessa a todo mundo e a guerra só tá interessando, por enquanto, aos dois”, concluiu.
Na análise do ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, as declarações de Lula, ao menos por enquanto, não devem mudar as relações dos Estados Unidos com o Brasil.
O motivo central seria o atual perfil ideológico do governo do democrata Joe Biden, que é bem diferente de seu antecessor, o republicano Donald Trump.
“O governo Biden, a visão de mundo de suas peças-chave, coloca como grande inimigo a direita e os conservadores nos próprios EUA, e não a China”, destaca Araújo, em entrevista exclusiva ao Paradoxo BR
“Para eles tanto faz se a China dominar o mundo, desde que os democratas woke continuem dominando os EUA”, afirma o ex-chanceler do governo de Jair Bolsonaro.
Ataque aos EUA não deve gerar retaliações, mas amplia espaço de domínio chinês
Questionado sobre o ataque do ‘presidente’ Lula ao uso do dólar como moeda-padrão das relações econômicas, e à atuação aos Estados Unidos na disputa Rússia x Ucrânia, Ernesto Araújo se mostra cético quanto a qualquer retaliação, ao menos no momento.
“Não creio que haja retaliações explícitas”, afirma Araújo.
“Podem, eventualmente, desconvidar o Brasil a participar como convidado na próxima reunião do G-7. Mas não creio que haja retaliações comerciais, nem financeiras. O Ocidente já não se leva muito a sério, não usam os meios que (ainda) têm para segurar países na aliança ocidental e enfrentar a China pra valer”, aponta
“De toda forma, enquanto o Lula continuar bancando o bom aluno no tema do clima, estará bem com as elites ocidentais”, analisa o diplomata, ressaltando que os recentes discursos de Lula sempre abrem espaço para a “responsabilidade climática” e “cuidado com o meio ambiente” – apesar dos laços com a China, o país que mais polui no Planeta.
Ernesto Araújo (que hoje leciona na cidade de Hartford, nos Estados Unidos) se mostra mais preocupado com a subserviência econômica brasileira, e sua postura cada vez mais simpatizante à política de Xi Jinping.
“A meu ver, o problema do caminho que Lula está tomando não é o perigo de retaliações”, alerta. “(o problema) é a vinculação cada vez maior de nossa economia à economia chinesa, o que significa vincular-nos aos planos do Partido Comunista Chinês”, finaliza.
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