Há exatos 30 anos, Ayrton Senna da Silva deixava a mortalidade para assumir a imortalidade
A primeira voz que ouvi em 1º de maio de 1994, quando ainda morava com meus pais próximo ao Mirante de Santana, em São Paulo, foi do então apresentador da rádio Jovem Pan, Milton Neves, minutos após o acidente de Ayrton Senna no Grande Prêmio de San Marino.
Naquele ensolarado e quente domingo – bem parecido como esta quarta-feira, 30 anos depois – algo parecia estar fora da ordem. O tom barítono do Miltão naquele Plantão de Domingo era sombrio, em vez de corriqueiramente animado e jocoso.
Conterrâneo de meu pai Claudio Dias Dirani (hoje, tristemente, não mais entre nós), o mineiro Miltão era bonachão e nunca economizava em suas piadas. Foi assim, inclusive, quando eu e minha família o encontramos na Flórida em 1990, no mesmo hotel. Ele, nativo de Muzambinho. Meu pai, um oriundo de Guaxupé, sul de Minas Gerais.
Mas quatro anos depois daquela viagem, Milton já não era o mesmo. Quando liguei meu rádio-relógio Philco, como sempre fazia pela manhã, o santista de coração descrevia o estado do Williams-Renault FW16 como “desastroso”, e que, pelas informações que já havia recebido, o inimitável Ayrton Senna da Silva estava à beira da morte.
Rapidamente, me levantei (naquele domingo, perdi o horário do GP) e fui perguntar se meus pais já sabiam do acidente no Grande Prêmio de San Marino – ironicamente, em sua primeira temporada com a escuderia, depois de seus dourados anos como tricampeão mundial pela McLaren (1988, 1990 e 1991).
O aspecto pálido em suas faces responderam à minha dúvida. O luto predominava em casa, em São Paulo, no Brasil e no resto do planeta.
A passagem de Senna – ou melhor, a ultrapassagem final que o transformou em imortal naquele 1º de Maio no Autódromo Enzo e Dino Ferrari, em Ímola, – o colocou em um inatingível “Olimpo de Heróis, daqueles que não são medidos apenas pelas conquistas esportivas.
Enquanto houver mundo, haverá a lembrança de Senna como intocável e quase santificado, por que não.
(..)
Claro. Não há dúvida. Eu era um fã de Senna, mas meu preferido da modalidade sempre foi Nelson Piquet- nunca escondi isso. Seria confortável usar a imagem do corinthiano Ayrton (seu – e meu – clube de coração) para explorar suas glórias. Não há dúvida, contudo, que Senna estaria anos-luz à frente dos grandes pilotos da atualidade na Fórmula 1 (Não, não há paralelo com o esporte a motor de hoje, em relação às décadas de 1970-80-90).
Ah, sim, não me perdoarei se esquecer de mencionar. Eu e Ayrton compartilhamos outras coincidências. Ele, Senna, era estudante no República da Bolívia, colégio onde sempre votei na zona norte de São Paulo.
Além disso, o tricampeão mundial foi amigo do irmão de meu pai, meu tio José Dirani (à esquerda na foto, ao lado do kart com Senna), e costumava levar seus carros na oficina dele, a Auto Center, quando esta ficava na Zacchi Narchi.
(…)
Ainda que o pesar imensurável da alma brasileira causado pela morte de Senna – e a inevitável mitificação de seu legado – seja o fator X da eternização do ano 1994, há que se lembrar de alguns feitos históricos para o Brasil.
Naquele momento em particular, estávamos próximos da implantação do Plano Real, que chegaria logo após a conquista do Tetracampeonato Mundial de futebol nos Estados Unidos, graças à dupla Romário e Bebeto e aos coadjuvantes de luxo Dunga e Taffarel.
Eles, a propósito, não se esqueceram do ídolo maior brasileiro após a conquista em gramados norte-americanos sob o comando de Carlos Alberto Parreira.
A intenção de homenagear Ayrton já estava nos planos, mesmo se o Brasil fosse derrotado pela Itália de Baresi e Baggio naquele tórrido dia de verão americano no Rose Bowl, um 17 de julho, em Pasadena, sede da final da Copa de 1994.
Ao digitar essa frase, tudo vem à tona como se fosse no momento em que observei os jogadores levarem a faixa ao centro do gramado, com os dizeres:
“Senna… Aceleramos juntos, o tetra é nosso!”
Enxuguei a lágrima por Senna e mais uma pelo Brasil.
Respostas de 2
Tenho certeza que muitos leitores assinariam esse texto junto com você, Claudio. A dor dessa perda nunca diminui durante esses 30 anos. ✌️
Muito obrigado, Solange